Setembro Vermelho é o mês para lembrar que cuidar do coração é uma responsabilidade coletiva e individual. As doenças cardiovasculares (DCVs) continuam sendo a principal causa de morte e incapacidade no mundo, e o Brasil enfrenta impactos expressivos desse problema.
De acordo com o estudo “Global, Regional, and National Burden of Cardiovascular Diseases and Risks 2023”, as DCVs permaneceram como a principal causa de morte global em 2023, com estimados 19,2 milhões de óbitos — contra 13,1 milhões em 1990. Esse crescimento reflete o envelhecimento populacional, o aumento demográfico e a persistência de fatores de risco modificáveis. Globalmente, 79,6% da carga das DCVs é atribuída a fatores de risco como pressão arterial elevada, dieta inadequada, colesterol LDL alto e poluição do ar.
No Brasil, os números também são alarmantes. O relatório “Estatística Cardiovascular – Brasil 2023” mostra que as DCVs seguem como a principal causa de mortalidade e morbidade no país, com maior impacto entre homens, idosos e em regiões de menor desenvolvimento. Estudo sobre mortalidade cardiovascular nos municípios brasileiros (2000–2018) revelou variações regionais significativas, apontando disparidades sociais, de acesso à saúde e de controle dos fatores de risco.
A relevância do Setembro Vermelho está em reforçar que muitos elementos de risco cardiovascular são passíveis de intervenção. Um estudo no New England Journal of Medicine identificou que cinco fatores clássicos — hipertensão arterial, má alimentação, tabagismo, colesterol elevado e disfunção metabólica — são responsáveis por cerca de 50% do ônus global das DCVs. Isso significa que políticas de prevenção podem gerar ganhos expressivos em saúde pública.
Outro aspecto essencial é a atividade física. Pesquisa publicada em Scientific Reports (1990–2021) mostrou queda nas taxas padronizadas de mortalidade e DALYs atribuíveis à baixa atividade física, embora o impacto absoluto permaneça alto, sobretudo em países de renda média e baixa. Isso reforça a urgência de promover ambientes urbanos que favoreçam a mobilidade ativa e o exercício regular.
Além disso, fatores ambientais também têm papel significativo. Em São Paulo, análises entre 2010 e 2019 identificaram associação entre poluentes (PM₁₀, NO₂ e SO₂) e internações por infarto agudo do miocárdio e doenças cerebrovasculares, com maior impacto em dias de alta exposição. Ou seja, combater a poluição também é cuidar da saúde cardiovascular.
Para um Conselho Regional, como o CRM-MA, o Setembro Vermelho é oportunidade de mobilizar médicos, gestores e sociedade em prol da prevenção. Ao pautar o tema com base científica, é possível estimular:
• A conscientização sobre check-ups regulares (pressão arterial, glicemia, perfil lipídico);
• A promoção de hábitos de vida saudáveis — alimentação equilibrada, abandono do tabagismo, prática de atividade física;
• A exigência de políticas públicas que favoreçam ambientes saudáveis — ciclovias, áreas de lazer, calçadas seguras, controle da poluição;
• A articulação com serviços de saúde para ampliar programas de prevenção, diagnóstico precoce e acompanhamento de pacientes em risco.
Que o Setembro Vermelho não seja apenas um mês simbólico, mas um marco para transformar conhecimento em ações concretas na luta contra as doenças cardiovasculares.
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✍️ Dr. José Albuquerque de Figueiredo Neto
Médico cardiologista e presidente do Conselho Regional de Medicina do Maranhão (CRM-MA)
